A sala de espera estava lotada de passageiros para o vôo 171, da Gaivota’s Airlines, que já estava meia hora atrasado.
As aeromoças tentavam tranqüilizar os passageiros, dizendo que a equipe de vôo ainda estava a caminho, quando de repente aparece o co-piloto, todo uniformizado, de óculos escuros e de bengala branca, tateando pelo caminho. Uma das aeromoças da companhia o encaminha até o avião enquanto os passageiros não acreditam no que vêem. Ela logo trata de se explicar:
– Sei que pode parecer estranho, mas apesar do Comandante Walter ser cego, ele é o melhor co-piloto da companhia!
Os passageiros ficam apreensivos e, alguns minutos depois, chega um outro funcionário, também uniformizado, de óculos escuros e de bengala branca, amparado por uma prestativa aeromoça, que toma a frente e diz, cheia de convicção:
– Senhores passageiros, apesar do piloto Inácio ser cego, ele é o melhor co-piloto da companhia e, juntamente com o seu irmão, formam a melhor dupla que esta empresa já teve!
Todos os passageiros ficam chocados e surpresos com a cena, mas mesmo assim embarcam no avião.
O comandante avisa que o avião vai levantar vôo e começa a correr pela pista, cada vez mais rápido.
Todos os passageiros se olham, suando e com muito medo da situação.
O avião vai aumentando a velocidade e nada de levantar vôo. A pista está quase acabando o avião nem dá sinal de sair do chão.
Todos começam a ficar cada vez mais apavorados. O desespero toma conta dos mais medrosos, enquanto alguns ainda ficam firmes, confiando na competência cega dos pilotos.
Alguns segundos depois nem esses se seguram e todos começam a gritar histericamente e só se acalmam quando o avião decola, ganhando o céu, subindo suavemente e provando a competência dos pilotos cegos.
Todos ficam aliviados até que o piloto, que ainda não havia desligado o microfone, vira-se para o co-piloto e diz:
– Já pensou se algum dia o pessoal não gritar?